Qui, 25 de novembro de 2021, 09:15

Baixa escolaridade afeta capacidade de idosos de resgatar palavras na memória
Estudo aplicado no interior do estado mostra que não é só a idade que dificulta a chamada fluência verbal
Teste realizado em Lagarto consiste na contagem dos nomes de animais citados por cada um dos 33 idosos participantes. (foto: banco gratuito de imagens)
Teste realizado em Lagarto consiste na contagem dos nomes de animais citados por cada um dos 33 idosos participantes. (foto: banco gratuito de imagens)

A fluência verbal, capacidade de resgatar palavras guardadas na memória, pode ser alterada com a idade, mas outros fatores também afetam tal fenômeno. Um deles é o grau de escolaridade, elemento-chave no artigo “Estratégias cognitivas utilizadas no teste de fluência verbal por idosos no interior de Sergipe", produzido pelas professoras do curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Sergipe Kelly da Silva (campus de Lagarto) e Raphaela Guedes-Granzotti (campus de São Cristóvão) e pela mestranda Talita Rocha (campus de Lagarto), além de docentes da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo foi publicado na Bioscience Journal, revista eletrônica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) publicada em língua inglesa.

O teste, realizado em Lagarto, consiste na contagem dos nomes de animais citados por cada um dos 33 idosos participantes, com idade média de 71,6 anos. O resultado encontrado foi quase metade dos valores padrões. A média em um teste de rastreio cognitivo que vai de 0 a 30 foi de 23,6 e no teste que verifica a evocação de nome de animais foi de 12,78.


Professora Kelly da Silva: preocupação com alto nível de analfabetismo, que influencia na cognição e na forma como as pessoas vão envelhecer. (foto: Caio Ribeiro/Decav-UFS)
Professora Kelly da Silva: preocupação com alto nível de analfabetismo, que influencia na cognição e na forma como as pessoas vão envelhecer. (foto: Caio Ribeiro/Decav-UFS)

A professora Kelly acredita que o cenário é preocupante, pois demonstra uma redução significativa na fluência verbal desses idosos uma vez que, ao longo da vida, independentemente do grau de letramento, todos vamos aprendendo mais palavras. "O ponto de preocupação das pessoas do interior [de Sergipe] é o alto nível de analfabetismo. Isso influencia na cognição e na forma como as pessoas vão envelhecer”, diz. Embora o estudo não tenha feito a divisão, a professora alerta que o declínio da cognição é ainda maior após os 80 anos.

Essa característica afeta não apenas a linguagem, mas também outros aspectos do cotidiano dos idosos. "A baixa escolaridade tem uma forte influência na cognição, que é uma faculdade mental usada para conhecer o mundo. Então, o raciocínio, a atenção, a linguagem, a tomada de decisão, tudo isso faz parte da cognição", explica a docente.

Uma estratégia muito utilizada para observar a fluência verbal de um indivíduo consiste em colocar em prática um teste no qual haja a necessidade de dividir os animais em grupos: animais domésticos, de fazenda ou aves, por exemplo. Conseguir desenvolver essa estratégia (chamada de flexibilidade cognitiva) é um sinal positivo, segundo a professora Kelly.

Também assinam o artigo os pesquisadores Patricia Zuanneti, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Marisa Fukuda, ambas da USP, e Rodrigo Dornelas, da UFRJ. A pesquisa é vinculada ao Ambulatório do Idoso, em funcionamento desde 2019 no campus de Lagarto.

Ana Laura Farias

Luiz Amaro (edição)

Campus de Lagarto


Atualizado em: Seg, 06 de dezembro de 2021, 10:06
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